sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Souza Cruz. Esta empresa não poderia se dizer sustentável.



Olá Amigos,


Algum tempo alguns colegas nossos estavam discutindo para saber se seria possível uma empresa poderia achar que a sociedade engoliria suas ditas ações de "sustentabilidade". Demorou mas encontramos.


A Souza Cruz. Vocês acreditam que esta empresa de cigarros se intitula sustentável ao ponto de produzir um relatório.


Confesso que não acreditei e resolvi ler o "excelente" relatório auditado pela famosa BUREAU VERITAS. A mesma empresa de auditoria que comprova as ISO 14000, 9000 e etc.


Ninguém é obrigado a desenvolver ações sustentáveis, existem negócios que não dá e o cigarro é um deles. Fale uma coisa boa que o cigarro pode trazer para a sociedade ?


Visto que a proposta deste Blog é testar os limites, mandei um e-mail para o Sr Pedro Prata, relações públicas da Souza Cruz.

 Acho muito, mas muito difícil vir a resposta, mas vamos tentar.


Prezado Pedro Prata,

Escrevo para você, pois não consegui acessar o formulário no site da Souza Cruz.

Sou Roberto Leite e me interesso muito pelas questões de Sustentabilidade e acabo de ler o relatório de vocês (ano 2007) que está no site.

Ao terminar de ler ainda tive algumas dúvidas e gostaria de saber se vocês podem me responder.

Segue abaixo os questionamentos.

Desde já agradeço pela atenção.

1- Vocês alegam ser uma empresa sustentável, mas visto que para ser sustentável uma empresa tem que ser economicamente rentável, ecologicamente correta e socialmente aceita, pergunto:
Como uma empresa de cigarro pode ser sustentável, visto que seu produto não é socialmente aceito, visto todas as restrições jurídicas para sua venda, comercialização e principalmente divulgação ?

2-  Souza Cruz acredita Em proporcionar benefícios para as comunidades em que opera. O que quer dizer com isto. Que benefícios o cigarro pode trazer para uma comunidade, descontando logicamente o ganho econômico da venda do tabaco ?

3 - Vocês afirmam que : "A Souza Cruz também aspira desenvolver produtos derivados do fumo que, com o tempo, sejam reconhecidos pelas autoridades científicas e regulatórias como produtos que reduzam substancialmente os riscos à saúde."
Quando isto vai existir ? É um estudo concreto ou uma frase utópica ?

4- Nas frases em que está escrito as premissas que vocês acreditam, faltou clareza nas seguintes afirmações abaixo, vocês poderiam esclarecer ?
Na divulgação de mensagens claras e precisas sobre os riscos associados ao consumo de fumo.
PERGUNTO: Onde encontro isto nos produtos de vocês além das mensagens obrigatórias do ministério da saúde e no site de vocês ?
Na divulgação de mensagens claras e precisas sobre os riscos associados ao consumo de fumo.
PERGUNTO: Como esta equação é resolvida sendo que neste mesmo documento o presidente da empresa comemora o sucesso nas vendas ?
Que altos padrões de responsabilidade social  corporativa devem ser promovidos na indústria do fumo.
PERGUNTO: Quais seriam esses altos padrões ? Parar de vender cigarro ?
Que a indústria do fumo deve ser ouvida sobre a criação de políticas governamentais que a afetem.
PERGUNTO: Em que sentido as empresas buscam ser ouvidas ? Vocês podem deixar isto mais claro ?

5- Durante o relatório vocês citam todos os impactos econômicos da indústria do tabaco, mas por que vocês não citam em nenhum momento os impactos socias ?

6- No âmbito ambiental, a redução de 43% na emissão do dióxido de carbono desde 2001 está considerado os dióxido de carbono emitido pelos 684 bilhões de cigarros produzidos ou não ?

7- Na página 11 do relatório existe uma foto com vários funcionários manipulando folhas de tabaco sem luva. Isto não é um risco para o trabalhador visto que ele está exposto diretamente com a nicotina em sua pele ?


8- Vocês afirmam na governança que " A Souza Cruz oferece aos stakeholders,de forma ágil e transparente, entendimento completo dos resultados financeiros e das diretrizes estratégicas de seu negócio".
PERGUNTO: Isto também é feito quando a informação tem que ser sobre os impactos socias e riscos a saúde atribuídos ao cigarro ?

9- Vocês afirmam que "A concorrência desleal foi a preocupação central dos stakeholders presentes ao Quarto Ciclo de Diálogos.".
PERGUNTO: Quem são esses stakeholders consultados (em nenhum momento foi citado quem são) ? São só agentes do mercado de tabaco ou está presente também pessoal da área da saúde, educadores e ambientalistas, pois acho muito difícil este público ter como principal preocupação a concorrencia desleal.

10- A principal sugestão do círculo de diálogo de vocês é que todo o imposto do cigarro vá para a saúde, uma proposta interessante, mas em nenhum momento vi no diálogo qual vai ser a parte da empresa no processo. Vocês estariam dispostos em investir em saúde além do pagamento dos impostos ?

11- Vocês afirmam no texto que:
Estudos epidemiológicos indicam que 90% dos portadores de câncer de pulmão são fumantes ou ex-fumantes, e a probabilidade de contrair a doença aumenta com o tempo, à medida que o fumante fica mais exposto a todos os elementos contidos na fumaça e na quantidade de cigarro consumida. “Se você está preocupado, fume menos, se você continuar preocupado, pare de fumar”, afirma um dos textos publicados no web site.
Este tipo de posicionamento não revela uma total falta de sensibilidade por parte de vocês e uma falta de respeito com o consumidor, visto que o ônus fica somente com a pessoa e a empresa lava as mãos ?

12 -  Vocês não deixaram claro no relatório porque a divulgação dos riscos do produto ficará somente na WEB. Por que não usar outras mídias ?s não deixaram claro no relatório porque a divulgação dos riscos do produto ficará somente na WEB. Por que não usar outras mídias ?


6 comentários:

  1. Parabéns, ótimo post. Sustentabilidade é moda para as empresas. O importante é a imagem da empresa, uma boa imagem ambiental ultimamente é uma ótima cartada, mas muitas ficam só na imagem, sem ter ações conretas em melhorias socioambientais.

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  2. Não seria a Petrobrás muito mais cara de pau que a Souza Cruz ao produzir um relatório, visto que seu produto é infinitamente mais impactante que cigarro? Não seria a Ambev muito mais cara de pau, visto que seu produto pode matar inocentes? Não seria a Natura a maior das caras de pau, pois lucra com a sustentabilidade e não dá à sua força de vendas qualquer direito trabalhista?

    É sempre essa lenga-lenga quando se fala de Souza Cruz, que é uma empresa infinitamente mais sustentável que muitas queridinhas do público. Já passou da hora do olhar míope do "Te odeio porque você fabrica cigarro". A empresa não vai deixar de existir por causa disso. E já que vai continuar funcionando, é muito mais importante saber se os seus processos são ou não sustentáveis.

    Só um dado: fast food mata mais que cigarro, bebida mata mais que cigarro, carro mata mais que cigarro e escolhas pessoais matam mais que qualquer coisa.

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  3. Julianna, Respeito sua opinião, no entanto, ao analisar o relatório vemos as incongruências apresentadas. Temos que analisar que para ser sustentável o produto tem que ser economicamente viável (que no caso do cigarro é), ambientalmente adequado aos padrões de gestão ambiental (que no seu trabalho pode até ser) e socialmente aceito (que no caso do cigarro não é mais). Assim, este produto não pode ser considerado sustentável, não é que seja ilegal, mas não é aceitável. Os outros produtos que você citou podem até no futuro não serem mais aceitáveis, como é o caso do Petróleo, mas hoje ainda dependemos desta matriz energética até mesmo para escrevermos neste blog. Entre o que oferece e o que traz de retorno para a sociedade, este tipo de produto (o cigarro) tem um saldo negativo. O que faltou neste relatório foi uma posição mais transparente de diálogo com a sociedade. Esta foi a opinião do nosso grupo, no entanto, sua opinião também fica aqui registrada.

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  4. Ótima postagem, excelente argumentação.

    Duvido muito que te respondam estas perguntas, mas de qualquer forma não podemos deixar de questionar este greenwashing descarado da Souza Cruz e feito por muitas outras empresas.

    Sustentabilidade virou mote de campanha publicitária para poder vender mais, só isso. A sustentabilidade em muitas empresas é apenas algo conceitual e distante das suas práticas. Já que a empresa não se encaixa em nenhum preceito sustentável, seria mais justo com o próprio consumidor que ela não investisse em nenhuma ação relacionada ao tema. Mas infelizmente não é assim, a hipocrisia impera.

    Abraços,

    Bruno Rezende.

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  5. A Souza Cruz patrocina o Caderno Zero Hora que sai todas as segundas " Nosso Mundo Sustentável", a empresa utiliza toda a contracapa em sua propaganda Institucional. Teve uma publicação que fez um anúncio pedindo aos consumidores que não comprassem cigarros pirateados, uma alusão ao produto, o que não é permitido por lei propaganda de cigarros. Acho um absurdo uma parceria destas, num caderno que procura tratar as questões ecológicas e sociais, ter a parceria desta empresa que por ano mata milhões de pessoas e seu produto está longe de ser sustentável, por todos os motivos sabiamente acima citados.

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  6. Olá, Leite;
    Há alguns dias conversávamos, em família, a respeito do assunto "empresa ambientalmente responsável X marketing dirigido ao alvo sensível a este tema". Hoje descobri seu blog, que trata de maneira objetiva e direta o assunto. Em relação à Souza Cruz (e também a outras empresas de tabaco)vejo que, além dos detalhes citados, os maiores problemas ocorrem em outras etapas da cadeia produtiva. Por exemplo, o fumicultor tem auxílio técnico para o plantio no tocante à diminuição de custo e aumento de produtividade, alguma orientação sobre riscos de agrotóxicos, etc. No entanto, não vende seu produto "in natura", pois o mesmo só é comprado depois de seco em "estufas de fumo", algumas elétricas, mas muitas que utilizam madeira para o aquecimento. O manuseio das folhas é feito com pouco cuidado em termos de EPIs (luvas, máscaras), deixando o produtor exposto à produtos químicos agressivos durante horas. Há mais de dez anos foi publicada (na extinta "Globo Ciência") uma reportagem sobre o índice de suicídios, que era 30 vezes (!)(?) maior entre os produtores de fumo e de morango do que na população em geral, provavelmente causado por depressão quimicamente induzida pela exposição aos organoclorados e organofosforados. Talvez o tabaco seja mais prejudicial às famílias (só por força de lei menores de idade foram retirados da produção - plantio, colheita, secagem) que o produzem do que para quem o consome, sem contar que o consumidor tem escolha, o produtor, nem sempre!
    Abraços.

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