quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os balanços de Sustentabilidade das empresas se sustentam ?


Esta é uma pergunta que faço a todos os integrantes da nossa sociedade. Hoje muitas empresas entraram na onda da sustentabilidade, como no início da década de 90 do século XX entraram na moda da ecologia com o advento da ECO 92 e depois na moda da chamada qualidade total e as várias outras certificações que surgiram criando uma industria de burocracia, selinhos e prêmios.


Trabalho com o tema Responsabilidade Social que na segunda metade desta década passou a ser integrada em um conceito mais amplo e perigosamente etéreo que é a tal chamada Sustentabilidade.

Digo etéreo porque tudo hoje é visto como sustentabilidade, se sua empresa separa o lixo, ela é sustentável; se a empresa distribui sacolas de pano, ela é sustentável; se a empresa planta árvores, ela é sustentável. Parece que é fácil ser sustentável basta apenas se pintar de verdinho como ocorreu no início da década de noventa quanto tudo era ecologia.

Lembro que ser sustentável é algo muito mais amplo, é ser ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente aceito.

Então, podemos concluir que não basta ser verdinho para ser sustentável, mas sim, ter um sistema robusto de gestão capaz de trabalhar em equilibrio este tripé.

Faço esta pequena introdução para discutirmos um pouco sobre os ditos "Relatórios de Sustentabilidade" das empresas. Não somente como profissional que trabalha nesta área, mas como acadêmico que estuda e desenvolve esta temática com os alunos de graduação e pós graduação e que neste dia a dia, vejo o quanto muitas empresas ainda não entenderam nada de sustentabilidade e ousam publicar relatórios anuais.

Falo sempre para os meus alunos, que ao ler um balanço social devemos ser tão críticos quanto um contador é com um balanço financeiro, pois diferente da perspectiva financeira, o balanço de sustentabilidade não é algo obrigatório para as organizações é uma informação disponibilizada de maneira voluntária.

Por ser algo voluntário, a empresa não pode se sentir ofendida por ser questionada em virtude dos dados apresentados. Falo isto pois eu, como pessoa física, já questionei muitas empresas sobre dados que foram publicados e em alguns casos recebi de resposta dos famosos SAC´s o porque eu gostaria de informações adicionais relativas aos questionamentos; e eu sempre respondo: Porque vocês publicaram, caso contrário eu não teria perguntado.

Assim, vejo que as empresas querem somente FALAR, FALAR e FALAR, mas não estão preparadas para ouvir. Lindos relatórios com fotos bem elaboradas escondem um conteúdo pífio, com textos, textos e textos totalmente vagos e vazios com gráficos e tabelas (números, se bem analisados não mentem) que contradizem totalmente o que foi dito no texto acima ou ao lado, bem como na legenda que ilustra a bela foto de uma criança carente bem nutrida ou de funcionários felizes.

O segundo semestre do ano é a época que tiro para ler os balanços de sustentabilidade e perguntar para as organizações dúvidas e incongruências encontradas no relatório. Lemos muito nos relatórios sobre engajamento, transparência e relacionamento, mas são raras as empresas que realmente possuem um canal efetivo de relacionamento e de verdade com a sociedade.

Muitas vezes vejo relatórios absurdos em termos de qualidade de dados que refletem uma verdadeira falta de sensibilidade sobre as questões sociais e ambientais, sendo muitas vezes validados como um excelente documento por auditorias independentes.

Sempre me perguntei como um relatório de qualidade pífia é auditado e recebe o aval de empresas tão importantes ? Analisando nas entrelinhas notei que quem assina e valida um balanço de sustentabilidade é um contador ! Nada contra estes excelentes profissionais, mas eles entendem de números e não das outras facetas sociais e ambientais que envolvem um relatório deste porte, ou seja, se foi investido R$ 50.000,00 em projetos sociais, ótimo, para o contador, está fechada a conta, mas para um balanço deste só isto não basta.

Um projeto social não é só dinheiro, mas também o que este recurso mudou na vida de uma comunidade ou quanto o meio ambiente pode se desenvolver com ações oriundas da organização que foram mitigadas tendo como base este recurso.

Assim, conclamo toda a sociedade a verem criticamente estes balanços e ver se eles realmente se sustentam ou é somente uma coleção de falácias encadernadas em papel reciclado ou certificado (agora está na moda papel certificado).

Reforço que ninguém pediu para as empresas publicarem essas informações, mas se publicaram, que estejam dispostas a ouvir críticas da sociedade e quem sabe no próximo ano melhorar ainda mais seus processos de gestão, para assim, todo mundo sair ganhando.

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